sábado, 13 de novembro de 2010

Vento no Litoral ( Renato Russo)

Canção e vida

Um dia desses, eu era feliz como quem nunca se afastou do porto

Matava a fome num ou noutro corpo e idolatrava as luzes do País

Quando cantava, era sem esforço.

Me vejo ainda escalando um fosso

Pra sussurrar canções pra alguma atriz

Por muitas vezes cruzei a estrada que dá em nada,

a da canção do Gil

só pra colher papoulas destroçadas, amontoadas num distante abril

O curioso é que, quando voltava, eu gargalhava ao som do vinil

Casa no campo, violão com lua, namorada nua, beijo de uma estranha

Cauda de pavão cheia de mistério, Chico, o planisfério, Rita, Gal, Bethânia

Lembrando agora vejo que não fiz nem a metade do que tinha em mente

enquanto expunha o corpo ao sol quente e rabiscava textos na alma com giz

Percebo agora que a estrada em frente, aquela mesma que vai dar em nada,

é a morada do que eu sempre quis

Por isso sigo firme, passo á passo. Há algo belo, eu sei, em algum lugar.

Para encontrar na borda do oceano a flor que valha à pena cultivar

é necessário estar disposto a tudo.

Solto no mundo, quero caminhar

Quero explorar os buracos da rua e revirar as cestas nos portões

Assoviar pra voz que continua a misturar a vida com as canções

Nenhum comentário:

Postar um comentário