Canção e vida
Um dia desses, eu era feliz como quem nunca se afastou do porto
Matava a fome num ou noutro corpo e idolatrava as luzes do País
Quando cantava, era sem esforço.
Me vejo ainda escalando um fosso
Pra sussurrar canções pra alguma atriz
Por muitas vezes cruzei a estrada que dá em nada,
a da canção do Gil
só pra colher papoulas destroçadas, amontoadas num distante abril
O curioso é que, quando voltava, eu gargalhava ao som do vinil
Casa no campo, violão com lua, namorada nua, beijo de uma estranha
Cauda de pavão cheia de mistério, Chico, o planisfério, Rita, Gal, Bethânia
Lembrando agora vejo que não fiz nem a metade do que tinha em mente
enquanto expunha o corpo ao sol quente e rabiscava textos na alma com giz
Percebo agora que a estrada em frente, aquela mesma que vai dar em nada,
é a morada do que eu sempre quis
Por isso sigo firme, passo á passo. Há algo belo, eu sei, em algum lugar.
Para encontrar na borda do oceano a flor que valha à pena cultivar
é necessário estar disposto a tudo.
Solto no mundo, quero caminhar
Quero explorar os buracos da rua e revirar as cestas nos portões
Assoviar pra voz que continua a misturar a vida com as canções
Nenhum comentário:
Postar um comentário